sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Zé Celso, Rock in Rio e a subversão com fogo encantado

Alessandro de Moura

Ao que tudo indica Zé Celso e a companhia do Teatro Oficina (http://www.youtube.com/watch?v=gM0JnqwK880) pode ter conseguido uma vitória parcial em sua longa luta contra o SBT e o Grupo Silvio Santos. A vitória é pequena, porém muito saborosa. Mais saborosa que uma jabuticaba, uma pitanga ou uma azeitona. Poucas coisas são tão prazerosas como empreender uma derrota aos distintos cavalheiros do algodão, aos heróis do ferro, e aos proprietários dos monopólios modernos.
Ao mesmo tempo em que assistimos da platéia esta vitória do Teatro Oficina, somos espectadores de uma derrota que se materializa nos morros cariocas frente ao Rock in Rio. Esta faz com que nos lembremos que ainda permanecesse o monopólio dos meios de comunicação e de produção artística. Os artistas e afins não podem deixar de inquietar-se frente a tal acontecimento. Até bem pouco tempo atrás muitos Monstros do Rock uniam-se e se pronunciavam contra a ordem, contra a Guerra no Vietnã, como fez Jimi Hendrix (http://www.youtube.com/watch?v=lK92W2RzbjE), contra Guerra no Golfo, contra a ocupação no Iraque, como Rage Against The Machine (http://www.youtube.com/watch?v=3gRIAhrteoQ) e muitos outros. No Rock in Rio, roqueiros em estado de rebelação entoavam cantos, gritos, berros e solos de guitarra contra a polícia, os dogmas religiosos, o capitalismo e a desigualdade. Revoltavam-se contra a miséria e falta de perspectiva da vidinha pequeno burguesa. Para nosso dissabor, os canais de televisão utilizam hoje estes espaços (construídos outrora pela juventude rebelde) para difusão de ideologias e formas de ser conservadoras, que muitas vezes reproduzem elementos machistas e homofóbicos durante noite e dia. A edição 2011 do Rock in Rio acontece simultaneamente com a ocupação dos morros pelo Exército e a Polícia Militar, a população dos morros se revolta, mas a maioria dos artistas não consegue ser porta-voz destes sentimentos de indignação. A televisão burguesa especializou-se em difusão de preconceitos seculares em formato pseudo-dramático, pseudo-tragédia,  pseudo-farsa, ou simplesmente pseudo-comédia. Lutam ainda para fazer o mesmo com os mais variados artistas e suas produções.
Após trinta anos sem revolução, acobertada sob o véu da forma artística, a maioria esmagadora das produções são pressionadas por todos os lados, dia-a-dia, corriqueira e repetidamente a apresentarem-se castradas de ousadia, se sonho e de fantasia. Sob tal imperativo são contratados e remunerados artistas de todas as faixas etárias. Busca-se submeter a liberdade de criação à moedas conversíveis. Os meios de comunicação de massa querem os artistas bem comportadinhos. Que sigam o roteiro. Agora, também neste campo, quanto menos audácia e ousadia melhor! Nada de inovação. Neste pouco admirável mundo novo, que reproduz o que existe de mais árido do deserto do real é expressamente proibida a Insolência. Re-editaram as possibilidades de revolução, transformando-as em re-afirmação, com mais um bocado de restauração consegue-se atuar melhor no re-lançamento da re-conservação da miséria do possível. “Melhor assim”, “chega de inquietação”, ela faz parecer que o chão está suspenso no ar. A classe dominante quer sentir-se segura em um mundo movediço.
Ao invés da insolência, a arte é utilizada na justificação e embelezamento do empresariado, agrário, industrial e financista. “É melhor”. “É menos abstrato”. “É mais fácil de entender”. O patrão e a polícia estão “muito mais perto do povo”.
Os meios de comunicação com difusão massiva foram voltados para apologia constante do aparato policial, da superexploração e da dominação política e econômica. De segundo em segundo a televisão, com tecnologia digital, regida por grandes conglomerados econômicos, levanta barreiras que impedem que se façam campanhas midiáticas contra os assassinatos que são cometidos contra os trabalhadores e trabalhadoras sem-terra.
Então a sociedade deve para de ver tv. Não! A televisão é uma conquista da marcha histórica da humanidade, é a burguesia que tem que ser impedida de parasitá-la. A burguesia deve ser impedida de utilizar a televisão para fazer apologia  à invasão de morros e favelas, tem que ser impedida de desviar a câmera das as chacinas que são financiadas e organizadas pelo aparato repressivo do Estado burguês e pelos latifundiários. Tem que ser impedida de ser utilizada contra trabalhadores e trabalhadoras que fazem piquetes, greves e ocupações por melhores condições de vida e salário. Os monopólios dos meios de comunicação devem ser extinguidos, para que a maioria da população possa colocar  a televisão à serviço de suas lutas contra a desigualdade, a pobreza e a superexploração imposta pelo patronato industrial e agrário. A arte pode subverter a ordem com seu fogo encantado, servindo de arma nas mãos dos dominados.  Os artistas, intelectuais e afins podem somar-se as lutas sociais, organizando verdadeiras "oposições artísticas", que lutem contra as formas de dominação exercida pelas classes dominantes sobre o proletariado. Sem a derrubada dos monopólios dos meios de comunicação e de produção artística não há como avançarmos na libertação das formas e dos conteúdos. Sem lutar pela emancipação da humanidade, não há como alcançar a libertação da arte das barreiras históricas que a defrontam.

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